Entrevista com
Richard Roberts
“Ainda gosto de pensar que sou um jovem médico de família!”
É uma espécie de globetrotter da Medicina Familiar. O ex-presidente da WONCA Mundial e atual docente do Departamento de Medicina Familiar da Universidade de Wisconsin (EUA) viajou nos últimos anos um pouco por todo o mundo e assistiu, em primeira mão, aos pequenos milagres que muitos médicos de família conseguem fazer, quase sempre com escassos meios técnicos, mas bem cientes do valor terapêutico que encerram em si. Em julho, Richard Roberts regressa a Portugal e a Lisboa, para uma alocução no âmbito do 19º Congresso Europeu da WONCA – WONCA Europa – que se espera bem ao seu estilo: instrutiva e inspiradora
Explique-nos quais serão os pontos fundamentais da sua comunicação durante o 19º Congresso Europeu da WONCA – WONCA Europa… Vai trazer-nos um pouco da sua experiência no contacto com colegas de várias latitudes?
A minha intenção é, de facto, partilhar com os participantes da conferência de Lisboa as histórias fantásticas protagonizadas por médicos de família de todo o mundo e o que de mais importante aprendi com eles.
Mas essas lições de vida nascem de programas estruturados de intercâmbio e formação desenvolvidos pela instituição de ensino onde trabalha, ou dos seus périplos pessoais?
São ensinamentos alicerçados no meu trajeto pessoal e na minha experiência enquanto presidente da WONCA, mas há que referir que atravessei cerca de trinta anos enquanto investigador, professor e autor com preocupações na área da melhoria da qualidade dos cuidados prestados e dos serviços de saúde disponibilizados às populações. Esses conhecimentos serão igualmente vertidos, é claro, na apresentação que pretendo fazer em Portugal.
O tema da sua comunicação também está associado à nova geração de médicos de família e às suas potencialidades… Pensa que existem assim tantas diferenças entre os novos médicos de família – que hoje começam a exercer – e aqueles que pertencem à sua geração?
Bem, eu ainda gosto de pensar que sou um jovem médico de família! É difícil vermo-nos a nós próprios de outra maneira… Mas respondendo à sua pergunta, julgo que existem realmente diferenças, ao nível da forma como as pessoas olham para a organização do trabalho e como encontram um equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional. Também me parece evidente que existem disparidades entre gerações, no modo como se usa e se perceciona a tecnologia em Saúde. São matérias muito interessantes, sobre as quais espero poder falar em Lisboa.
Na sua perspetiva, essa maior intimidade com a tecnologia, visível na nova geração de médicos, é transversal a todas as culturas e países?
Sim. Mas é curioso perceber que uma das coisas que a tecnologia transformou, especialmente entre os mais jovens, foi a noção do possível e do impossível. Hoje em dia, um estudante de Medicina em Lisboa consegue sentir-se muito mais próximo de, por exemplo, um médico de família que trabalhe na Nova Zelândia, se assim o desejar. A internet encurta a distância entre os dois. Os médicos de família mais velhos e mais experientes podem não ter beneficiado dessa grande oportunidade. É óbvio que alguns deles envolveram-se em organizações científicas e socioprofissionais e puderam conhecer colegas de outras paragens, à medida que foram participando em congressos e reuniões, mas nem todos tiveram a possibilidade de entrar nesta dinâmica. Com os novos meios de comunicação tudo fica mais fácil e existem muitas coisas que os jovens médicos de família nos podem ensinar, nesse campo. Este novo panorama envolve aspetos bons e aspetos maus. É certo que os jovens médicos de família ganham um maior sentido de comunidade global, partilhando interesses e preocupações. Mas, por outro lado, podemos cair naquilo que nos EUA designamos por raciocínio de grupo. Ou seja, quando todos se concentram nas mesmas fontes de informação e nas mesmas realidades partilhadas, corre-se o risco de se reduzir a diversidade de visões e de perspetivas que podemos encontrar em cada local e em cada cultura. Resumindo, estou convencido de que ambas as gerações (a dos mais velhos e a dos mais novos) têm algo de valioso a oferecer.
Sim. Mas é curioso perceber que uma das coisas que a tecnologia transformou, especialmente entre os mais jovens, foi a noção do possível e do impossível. Hoje em dia, um estudante de Medicina em Lisboa consegue sentir-se muito mais próximo de, por exemplo, um médico de família que trabalhe na Nova Zelândia, se assim o desejar. A internet encurta a distância entre os dois. Os médicos de família mais velhos e mais experientes podem não ter beneficiado dessa grande oportunidade. É óbvio que alguns deles envolveram-se em organizações científicas e socioprofissionais e puderam conhecer colegas de outras paragens, à medida que foram participando em congressos e reuniões, mas nem todos tiveram a possibilidade de entrar nesta dinâmica. Com os novos meios de comunicação tudo fica mais fácil e existem muitas coisas que os jovens médicos de família nos podem ensinar, nesse campo. Este novo panorama envolve aspetos bons e aspetos maus. É certo que os jovens médicos de família ganham um maior sentido de comunidade global, partilhando interesses e preocupações. Mas, por outro lado, podemos cair naquilo que nos EUA designamos por raciocínio de grupo. Ou seja, quando todos se concentram nas mesmas fontes de informação e nas mesmas realidades partilhadas, corre-se o risco de se reduzir a diversidade de visões e de perspetivas que podemos encontrar em cada local e em cada cultura. Resumindo, estou convencido de que ambas as gerações (a dos mais velhos e a dos mais novos) têm algo de valioso a oferecer.